ASSÉDIO MORAL E SUAS IMPLICAÇÕES NA SAÚDE MENTAL DO TRABALHADOR

ENTENDER PARA MANEJAR ESSE GRAVE PROBLEMA
O ambiente de trabalho é cenário de interação interpessoal, com um objetivo profissional, mas que incide também na experiência pessoal de cada indivíduo. Assim, pode ser uma fonte de desenvolvimento e crescimento, mas também de conflitos e gatilhos de desgaste emocional e até adoecimento mental. A qualidade do clima organizacional, que em termos gerais significa como os colaboradores percebem e se sentem nesse ambiente, é um elemento de suma importância para a saúde das pessoas que trabalham naquele local, como também para a imagem da empresa e resultados organizacionais. Dentro dessa percepção, inclui-se como as dinâmicas de interação dentro da hierarquia se consolidam nesse espaço. Abordar, portanto a temática de assédio moral dentro das empresas, se faz necessário, já que é uma prática que pode tornar o ambiente nocivo, trazendo problemas de saúde mental aos trabalhadores, bem como, malogrando a imagem da empresa.
O QUE É ASSÉDIO MORAL?
O assédio moral no ambiente de trabalho pode ser definido como a repetição de atos hostis, humilhantes, discriminatórios ou abusivos por parte de um ou mais indivíduos contra um colega ou subordinado. Esse comportamento tem como objetivo fragilizar, desqualificar e desestabilizar a vítima, causando danos psicológicos e emocionais.
O assédio moral pode se dar de forma VERTICAL (quando um chefe, líder ou gestor comete esse ato contra um colaborador subordinado ao cargo em questão); HORIZONTAL (quando é praticado pelos próprios colegas de trabalho) e MISTO (quando tanto líderes, quanto colegas expressam essa hostilidade intencional contra um determinado membro da equipe).
Marie-France Hirigoyen, psicóloga, psiquiatra e psicanalista, autora de diversos artigos e livros sobre assédio moral no trabalho, caracteriza essa prática como uma violência psicológica que ocorre de forma sistemática e provocada, levando a vítima a se sentir impotente e emocionalmente fragilizada.
Nas escolas, fala-se sobre o bulliyng, também uma agressão, em condições semelhantes, direcionada e feita por crianças/adolescentes. O assédio moral é algo muito similar, mas que acontece entre adultos, nos ambientes coorporativos. Vale ainda destacar que tais violências podem ocorrer também de forma sutil, o que acaba dificultando a identificação, mas nem por isso, causam menos danos emocionais às vítimas. Portanto, a qualidade das interações interpessoais, o respeito mútuo e aceitação da diversidade dentro das empresas, são itens que precisam estar consolidados entre os valores daquela cultura organizacional.
O IMPACTO DO ASSÉDIO MORAL NA SAÚDE DO TRABALHADOR
Estudos apontados pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) e pela Organização Mundial da Saúde (OMS) revelam que o assédio moral no trabalho está associado ao aumento do absenteísmo, redução da produtividade, rotatividade de funcionários e custos adicionais para as empresas.
Esse impacto comportamental é, na verdade, uma consequência da dor emocional que as práticas nocivas e hostis já vem causando à pessoa que é vítima do assédio moral. Ou seja, trata-se de um sintoma que indica sérios desequilíbrio dentro das dinâmicas relacionais no trabalho.
O assédio moral no trabalho pode desencadear uma série de problemas de saúde física e mental. A exposição contínua a essa violência psicológica pode levar ao desenvolvimento de doenças graves, como resposta ao estresse traumático que tais circunstâncias podem eliciar. Uma pessoa sob tais condições, pode experimentar sintomas como ansiedade, depressão, insônia, estresse emocional, dores de cabeça, distúrbios gastrointestinais, entre outros. Isso, porque precisamos sempre lembrar que corpo e mente são indissociáveis quando se trata de saúde e a doença se apresenta como um sintoma a algo que está disfuncional, nesse caso, as relações no ambiente de trabalho.
DADOS QUE NÃO PODEM SER IGNORADOS
De acordo com dados do Ministério Público do Trabalho (MPT) e do Ministério da Saúde, as notificações de assédio moral no trabalho aumentaram significativamente nos últimos anos. Apenas no Brasil, estima-se que cerca de 42% dos trabalhadores já sofreram esse tipo de violência psicológica.
Esses números evidenciam a necessidade urgente de implementação de políticas de prevenção e combate ao assédio moral, bem como de um maior suporte às vítimas.
ALTERNATIVAS E AÇÕES PARA DIMINUIR OS PROBLEMAS DE SAÚDE MENTAL
É fundamental que as empresas e instituições desenvolvam políticas internas de prevenção e combate ao assédio moral. Ainda que nada indique a ocorrência desses atos, a atenção ao bem estar interno e promoção de um ambiente de trabalho saudável, pautado no respeito, na ética, na aceitação da diversidade e na empatia, são medidas preventivas e também minimizadoras de problemas que podem afetar toda a dinâmica organizacional.
Somado a isso, vale a pena considerar a implantação de canais de denúncia, que sejam seguros e eficazes, proporcionando real suporte vítimas, caso seja necessário. De igual modo, treinar gestores e líderes a conduzir as relações interpessoais de forma respeitosa e prepará-los para identificar e lidar com situações de assédio moral, são ações que tornam as políticas de prevenção efetivas.
Os colaboradores também precisam serem alcançados por ações de conscientização e treinamentos que favoreçam a consolidação de uma cultura de respeito, diálogo, empatia e valorização da diversidade. Cabe nesse contexto, construir um calendário de intervenções (palestras, treinamentos, oficinas, workshops) que abordem o tema do assédio moral, destacando suas consequências e fornecendo orientações sobre como agir diante dessas situações.
Além disso, é fundamental oferecer suporte psicológico e emocional às vítimas de assédio moral. Contratação e/ou parcerias com psicólogos, estabelecendo programas de apoio e orientação individual, contribuem com a recuperação das vítimas e fortalecimento da saúde mental.
LEGISLAÇÃO E RESPONSABILIZAÇÃO DOS AGRESSORES
A legislação trabalhista em diversos países tem evoluído para garantir a proteção dos trabalhadores contra o assédio moral. É essencial que os trabalhadores conheçam seus direitos e saibam como denunciar casos de assédio.
No Brasil, por exemplo, a Lei nº 13.185/2015 instituiu o Programa de Combate à Intimidação Sistemática (Bullying) e estabelece diretrizes para a prevenção e o combate ao assédio moral. Além disso, a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) também dispõe sobre a proteção contra o assédio moral, caracterizando-o como uma forma de violência no ambiente de trabalho.
Os agressores devem ser responsabilizados por suas ações, podendo sofrer medidas disciplinares, suspensões e até mesmo demissões, dependendo da gravidade do caso. As ações judiciais também podem ser movidas pelas vítimas, buscando indenizações por danos morais, dentre outras medidas cabíveis no âmbito judicial.
CONCLUSÃO
O assédio moral no ambiente de trabalho é uma realidade preocupante que afeta a saúde e o bem-estar dos trabalhadores. É fundamental que as empresas, instituições e legisladores assumam a responsabilidade de combater essa prática, promovendo um ambiente de trabalho saudável, respeitoso e seguro.
A conscientização, a prevenção e o suporte às vítimas são passos essenciais para enfrentar o assédio moral. Todos os colaboradores devem estar cientes de seus direitos e deveres, e também das medidas disponíveis para denunciar e combater o assédio, caso ele ocorra.
Ao criar um ambiente de trabalho livre de assédio moral, não apenas os trabalhadores se beneficiam, mas também as empresas, que verão um aumento na produtividade, na satisfação dos funcionários e na comunicação organizacional. A saúde e o bem-estar dos trabalhadores devem ser prioridades, construindo um futuro profissional mais saudável e inclusivo para todos.