Líderes saudáveis, equipes saudáveis: a influência da saúde mental dos líderes no desempenho da equipe

A saúde mental dos líderes desempenha um papel fundamental no ambiente de trabalho e pode ter um impacto significativo no desempenho e bem-estar de suas equipes. Ao longo dos anos, a psicologia organizacional tem se dedicado a entender como fatores individuais e organizacionais influenciam o funcionamento das equipes. E nesse contexto, a saúde mental dos líderes surge como um aspecto crucial a ser considerado, já que, por exercerem um papel importante na modelagem de comportamento dos liderados, a forma como gestores lidam com os desafios organizacionais, com o estresse, com a mediação dos conflitos e com outras demandas do contexto laboral, impacta diretamente no comportamento dos membros da organização. Líderes mentalmente saudáveis tendem a ser mais equilibrados emocionalmente, o que cria um ambiente propício para o desenvolvimento de comportamentos producentes e positivos nos demais membros da equipe. Isso, consequentemente, potencializa os resultados alcançados pela empresa e seu posicionamento no mercado. Em outras palavras, saúde mental e economia demonstram estarem muito mais interligados do que se possa imaginar, portanto, buscar referenciais teóricos da psicologia e técnicas qualificadas são, indubitavelmente, um investimento certeiro e cada vez mais bem aceito no mundo dos negócios.
O PAPEL DO LÍDER NAS ORGANIZAÇÕES
Os líderes têm um papel essencial na orientação e coordenação de suas equipes. Eles são responsáveis por definir metas, delegar tarefas, tomar decisões e motivar os membros do grupo. No entanto, muitas vezes, o foco é depositado unilateralmente na eficiência e produtividade das equipes, negligenciando-se a importância de como os colaboradores percebem suas respectivas relações com o trabalho, ou ainda, como se sentem na interação com o ambiente e na execução de suas atribuições. Por muitos anos, a concepção do trabalho foi sofrendo modificações balizadas por questões econômicas, políticas e culturais e nesse processo, os anseios por resultados e lucratividade colocam em detrimento aquele que produz, a saber, o trabalhador. Ou seja, a força de trabalho erroneamente foi concebida apenas como o meio e, portanto, não é incomum, até nos dias atuais, percebermos diversas estratégias que buscam “extrair” cada vez mais dessa força. Ocorre que, novamente por influências culturais, econômicas e políticas, o comportamento e perfil do trabalhador vem se modificando e questões de saúde mental, que outrora eram totalmente suprimidas, agora passam a ser pauta das discussões e ganham importância. Com isso, pensar na saúde mental do líder e em como ele modela o ambiente de trabalho, impactando na saúde mental também da equipe, passa a ser uma ordem de prioridade.
Nessa linha de raciocínio, trazemos a distinção de termos importantes que clarificam essa discussão, a saber, o que chamamos de Hard Skill e de Soft Skill. Essas terminologias se referem a grupos distintos de competências e habilidades que configuram o perfil profissional de uma pessoa. Considerando aqui nosso eixo central, que é o cargo da liderança, podemos distinguir esses grupos de habilidades da seguinte maneira:
- Hard Skill – diz respeito a cursos, graduações, especializações, competências técnicas que um profissional apresenta. Por muito tempo, líderes com um bom repertório de hard skill, compatível com sua área/cargo de atuação, se mostrava suficientemente apto para promoções e validação de um cargo de alto escalão, afinal, se a pessoa detinha um bom nível de conhecimento técnico/teórico estava pronto para delegar e coordenar uma equipe.
- Soft Skill – refere-se a competências e habilidades comportamentais, que abrangem uma variedade de traços, atitudes, comportamentos. Isso engloba, por exemplo, como o profissional reage diante de problemas, conflitos, como se comunica com pares, liderados e autoridades, como se mantem motivado, como se planeja e se organiza diante das demandas, enfim, são capacidades que, muito além da técnica, vão determinar a dinâmica interacional com o trabalho e no ambiente de trabalho. Atualmente, os processos de seleção de pessoal focam muito em reconhecer as soft skills de um candidato e quando nos referimos à liderança, esse ponto assume um grau de importância muito significativo, pois isso incidirá diretamente no clima organizacional, na saúde mental das pessoas que compartilham esse local de trabalho e nos resultados que a equipe poderá atingir a médio e longo prazo.
A SAÚDE MENTAL DOS LÍDERES
A saúde mental dos líderes refere-se à sua capacidade de lidar com o estresse, tomar decisões adaptadas, manter relacionamentos saudáveis e equilibrar as demandas profissionais e pessoais. Um líder com boa saúde mental tende a ser mais resiliente, ter uma maior capacidade de adaptação e ser mais eficaz na gestão das emoções e no relacionamento interpessoal. E essa sincronia subjetiva e comportamental move a equipe a um repertório de desempenho mais elevado.
Porém, não podemos apenas responsabilizar esses profissionais por toda a configuração do clima organizacional. É indubitável sua importância nesse processo, mas, por outro lado, é necessário ponderar que quase sempre, os líderes não são preparados em termos de desenvolvimento de suas soft skills, além do que, muitas vezes, são bombardeados por pressões e metas extremamente ousadas e exaustivas.
Somado a isso, alguns problemas de gestão de pessoas como: quadro de funcionários reduzido, má distribuição de tarefas, carência de treinamentos internos para equipe e uma cultura extremamente focada em resultados, compelem os líderes a um cenário delicado e que ameaça suas condições de saúde mental, já que acabam estendendo corriqueiramente a jornada de trabalho, perdendo tempo de qualidade com a família e cuidados pessoais, vivenciando quadros de insônia, ansiedade e irritabilidade.
Analisando o contexto como um todo e os fatores que participam desse cenário, precisamos falar sobre a saúde mental do líder como uma condição determinante para a saúde organizacional, mas também é preciso considerar que essa mesma organização pode estar sendo a fonte de adoecimento desses profissionais. Por isso, abordar a problemática com uma abordagem sistêmica e analítica, parece ser o caminho mais sensato.
SUGESTÃO DE INTERVEÇÕES PARA PROMOVER SAÚDE MENTAL DOS LÍDERES
Diante de todas as correlações apresentadas acima, fica nítida a necessidade de colocar a promoção da saúde mental dos líderes como uma demanda organizacional, afinal esse profissional e o nível de seu equilíbrio emocional e soft skills confluem para a formação de um ambiente de trabalho saudável e índice de performance da equipe. Algumas sugestões podem ser válidas dentro desse propósito, cabendo a cada empresa analisar seus pontos mais críticos e elencar a ordem e detalhes de implantação de ações de desenvolvimento de líderes, com foco em saúde mental:
- Programas de Capacitação de Líderes: Oferecer programas de capacitação que visem o desenvolvimento de competências comportamentais e técnicas é uma intervenção valiosa. Lembrando que a definição dessas competências precisa ser estabelecida por meio de técnicas específicas, como descrição de cargos por competência. Esse recurso é importante para não exigir habilidades de forma exagerada e desconexa do perfil do cargo. É preciso ter em mente que estamos falando de pessoas e não de máquinas ou seres perfeitos. Então, entender o rol de competências específicas para o desempenho de cada cargo (inclusive o cargo do líder) é uma abordagem realista e respeitosa com as pessoas, proporcionando possibilidades de desenvolvimento pessoal e profissional sustentável e madura.
- Programa de Desenvolvimento de Inteligência Emocional: Ações internas e continuadas que promovam a psicoeducação, auxilia no desenvolvimento de habilidades comportamentais imprescindíveis no contexto de trabalho, tais como, gestão do estresse, empatia, tomada de decisão e resolução de conflitos. Esse tipo de trabalho pode ser oferecido para líderes e também a equipe em geral e podem ser uma ferramenta poderosa para proporcionar um clima de trabalho positivo e saudável, diminuindo o risco de adoecimento ocupacional.
- Apoio Organizacional: Disponibilizar suporte e recursos adequados aos líderes, como programas de bem-estar, acesso a serviços de saúde mental e um ambiente de trabalho que valorizam o equilíbrio entre vida pessoal e profissional.
- Cultura Organizacional Saudável: Promova uma cultura organizacional que valorize a saúde mental, o equilíbrio e o suporte emocional é essencial. Isso pode ser alcançado por meio de políticas e práticas que zelam pela segurança psicológica, incentivam o autocuidado, o respeito mútuo e a promoção do equilíbrio entre trabalho e vida pessoal.
- Feedback Regular: Fornecer feedback é uma ferramenta valiosa que auxilia o profissional a canalizar seus esforços e competências naquilo que realmente representa expectativas depositadas ao seu cargo. Além disso, quando bem feito, o feedback proporciona um espaço saudável em que o trabalhador também pode ser compreendido em suas dificuldades e limitações. Esse recurso, muitas vezes negligenciado ou até aplicado de forma distorcida, deve ser incorporado à dinâmica organizacional, pois pode ajudar a identificar problemas precocemente e oferecer suporte adequado, fazendo com que o profissional se sinta mais seguro e amparado na sua trajetória de desenvolvimento. Caso haja dificuldade em conduzir o processo, preencha o formulário de contato no ícone lateral desta página, para receber uma proposta de nossa consultoria.
PORQUE VALE A PENA INVESTIR EM SAÚDE MENTAL
A saúde mental deve ser abordada de forma sistêmica, compreendendo todos os fatores circundantes à realidade da empresa e necessidade dos líderes, afinal, por conta de sua posição e vínculo hierárquico, desempenha um papel crucial no desempenho e bem-estar das equipes. Líderes mentalmente saudáveis se mostram mais propensos a criar um clima organizacional positivo, modelar comportamentos saudáveis, tomar decisões eficazes, gerenciar conflitos de forma construtiva, serem resilientes e fornecerem suporte emocional aos membros da equipe. Portanto, investir na promoção da saúde mental dos líderes é fundamental para o sucesso organizacional e o desenvolvimento das equipes. As organizações devem reconhecer a importância desse aspecto e implementar estratégias e políticas que apoiem a saúde mental de seus líderes, criando assim um ambiente de trabalho saudável e produtivo para todos os colaboradores.
Além disso, é importante lembrar que a saúde mental dos líderes também pode ter um impacto significativo em sua vida pessoal. O equilíbrio entre a vida profissional e pessoal é essencial para o bem-estar global dos líderes, o que, por sua vez, pode influenciar positivamente sua capacidade de liderança e desempenho no trabalho.
Ao adotar medidas para promover a saúde mental dos líderes, as organizações também enviam uma mensagem clara de que se preocupam com o bem-estar de seus funcionários e valorizam um ambiente de trabalho equilibrado. Isso pode levar a um aumento da satisfação no trabalho, no engajamento dos colaboradores e na retenção de talentos.
Simone Rezende Barbosa Pereira
Psicóloga – CRP 18 03334